![]() |
| Igreja da Paz |
Świdnica (que se pronuncia aproximadamente chfidnítsa) é uma cidade pequena de 55.000 habitantes situada na Baixa Silésia, que entra no roteiro dos visitantes na Polônia devido à surpreendente Igreja da Paz, Patrimônio da Humanidade pela Unesco desde 2001.
![]() |
| Estação ferroviária de Wroclaw |
A cidade dista 54 quilômetros de Wroclaw e o trem da operadora regional DK leva pouco mais de uma hora no percurso. Digna de nota é a estação ferroviária de Wroclaw (que já tinhamos conhecido quando chegamos no dia anterior vindos de Torun), localizada a 1,5 km ao sul do centro. Inaugurada em 1857 quando toda a região ainda pertencia à Prússia, mais parece um castelo medieval, sendo séria candidata ao título de mais bela estação polonesa ao lado da de Gdansk.
Percorremos o circuito de atrações de Świdnica a pé a partir da estação ferroviária, distante somente 350 m da Praça do Mercado.
Igreja da Paz:
A grande atração da cidade é sem dúvida a Igreja da Paz, templo que foge completamente do padrão de igrejas polonesas. Sua denominação tem raiz histórica, se referenciando à Paz de Vestfália, o tratado assinado em 1648 que assegurou aos protestantes da Silésia o direito de construir três igrejas. No entanto havia condições bem restritivas: só se podia utilizar argila, areia e madeira como material de construção. Além disso a duração das obras não poderia exceder um ano, prazo muito apertado. Dito e feito, a construção da igreja em 1657 demorou somente dez meses! Das três igrejas construídas nestas condições adversas, hoje só restam duas. A outra se localiza em Jawor, a 35 quilômetros de distância, também é denominada Igreja da Paz e apresenta o mesmo estilo de fachada
➨ Em 2022 visitei na cidade alemã de Münster uma das duas salas onde o tratado foi assinado. Para conhecê-la, acesse aqui o post que escrevi.
![]() |
| Lateral da Igreja da Paz |
![]() |
| O interior barroco da Igreja da Paz |
Rynek:
Conhecida a igreja, voltamos à Rynek, a Praça do Mercado pela qual tínhamos passado na ida. A maioria das excursões que visitam Świdnica ignora completamente a praça, se dirigindo unicamente à Igreja da Paz, um absurdo dada a beleza do conjunto medieval.
![]() |
| Torre da Prefeitura na Praça do Mercado |
Como é comum em cidades polonesas, a Prefeitura ocupa o miolo da praça. Sua torre já era mencionada no final do século XIII, ainda como a torre do mercado. Tendo sobrevivido ao longo dos séculos sob várias formas, ruiu em 1967 devido ao abalo causado por obras na vizinhança. A torre só foi reinaugurada na década passada. Do seu alto se obtém vista de toda a cidade.
![]() |
| Fonte na Praça do Mercado |
Vale a pena dar a volta no entorno da praça apreciando seus monumentos e quatro fontes, onde se destacam a Fonte de Netuno de 1732 e a Coluna da Santíssima Trindade, erguida em 1693 em arenito vermelho. As edificações são um capítulo à parte, com uma variedade de detalhes que vão do art-nouveau ao barroco e gótico, dando um ar eclético ao conjunto. Um dos destaques é o edifício "Sob Hermes" em frente à Fonte de Netuno, com a fachada em art-nouveau. O nome alude à estátua do deus grego da velocidade colocada no cume da cúpula; Hermes (ou Mercúrio na sua denominação romana) é o protetor dos comerciantes, atividade vital da cidade nos séculos passados. Aliás, é curiosa essa tendência polonesa de batizar prédios, bares e restaurantes com nomes se iniciando com a palavra sob ("pod" em polonês), sempre referenciando algo plantado acima.
![]() |
| Coluna da Santíssima Trindade e Edifício "Sob Hermes", com fachada verde |
Na Prefeitura funciona o Museu do Comércio Antigo, com entrada gratuita. Além de seções contendo objetos utilizados antigamente no comércio como caixas registradoras e balanças de peso, ainda oferece uma outra seção contando a história da cidade. Ali se destaca a maquete mostrando Świdnica no século XVII, quando era uma das mais prósperas cidades da Silésia, com suas muralhas ainda intactas.
Uma surpresa aguarda quem visita o museu e não conhece detalhes da história da cidade. Há uma mostra dedicada à produção de cerveja. No passado Świdnica era um centro cervejeiro de excelência, tanto é que o restaurante mais antigo do país, situado desde 1273 no porão da Prefeitura de Wroclaw, leva seu nome - Piwnica Świdnica ("porão de Świdnica"), referência à procedência da cerveja consumida por seus fregueses na Idade Média. Várias das edificações da Praça do Mercado têm um porão onde no passado os moradores fabricavam cerveja.
![]() |
| Fonte de Netuno diante do Museu do Comércio Antigo |
Na frente do museu diante da Fonte de Netuno está a estátua de uma senhora sentada num banco olhando para o céu e segurando um livro. Trata-se de Maria Cunitz, astrônoma que viveu em Świdnica e que escreveu em 1650 Urania Propitia, um livro renovador contendo tabelas simplificadas a partir do trabalho publicado por Johann Kepler duas décadas antes. É realmente surpreendente uma mulher ter alcançado tal feito naquela época; ela nunca teve educação formal, tendo sido educada pelos pais e terminando por dominar sete idiomas, entre eles o grego e o hebraico. E eu pensando que a primeira cientista polonesa de renome chamada Maria tivesse sido Marie Curie...
![]() |
| A estátua de Maria Cunitz |
Enquanto a estátua da astrônoma ocupa posição de destaque na praça central, Świdnica possui outro cidadão famoso bem menos festejado - Manfred von Richthofen. Se o nome soa desconhecido, seu apelido passou para a posteridade - Barão Vermelho, o ás da aviação alemã na Primeira Guerra Mundial. Manfred viveu a infância e juventude na cidade, tendo nascido em Wroclaw (na época a Silésia pertencia à Alemanha). O Barão Vermelho assombrou o mundo com suas 80 vitórias em combates aéreos e se tornou uma lenda, mas acabou morrendo aos 25 anos quando seu avião foi abatido na França no ano final da guerra, 1918. O Barão ganhou notoriedade para novas gerações a partir da década de 60, quando apareceu nas tiras de quadrinhos Peanuts como o adversário aéreo imaginário do cachorro Snoopy.
Catedral de Świdnica:
A Catedral contrasta fortemente com a Igreja da Paz, tendo sido construída no século XIV no estilo gótico em pedra no lugar de um templo de madeira incendiado. Alcançando 102 m, sua torre é a mais elevada da Silésia e a quinta em altura dentre as igrejas do país. A Igreja de São Venceslau e Santo Estanislau se transformou em catedral quando o Papa João Paulo II criou a diocese de Świdnica em 2004.
![]() |
| Catedral |

E já que mencionei o papa polonês, na praça diante da catedral encontramos sua estátua, em que é retratado de forma pungente. A praça leva seu nome, São João Paulo II - o pontífice foi canonizado em 2014 nove anos após seu falecimento e os logradouros poloneses que o homenageiam normalmente incluem o "são" na designação. Ao sairmos da catedral, vimos um exemplo da religiosidade do povo polonês, em sua grande maioria católico: um rapaz rezava ajoelhado diante da estátua. Esta devoção ao papa é ainda mais forte em Świdnica, pois João Paulo II é o santo padroeiro da cidade há dez anos.
![]() |
| A estátua do papa, santo padroeiro da cidade, ao lado da catedral |
![]() |
| Como de hábito no país, a estação de trem inaugurada em 1905 é uma das construções mais bonitas de Świdnica |
No próximo post, vamos conhecer uma cidade aos pés dos Cárpatos - Zakopane.
⏩➧ Este é o nono post da série sobre a viagem à Polônia realizada em maio de 2024. Para visualizar os demais e ver o roteiro completo, acesse o post Percorrendo a Polônia de Norte a Sul
Postado por Marcelo Schor em 18.11.2025













Nenhum comentário:
Postar um comentário
O comentário será publicado após aprovação