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Zakopane, a estância polonesa nos Cárpatos

 

Vista de Zakopane e dos Tatras a partir do Monte Gubałówka.


          Zakopane é uma das mais famosas estâncias polonesas, localizada aos pés dos Cárpatos, que ali servem de fronteira com a Eslováquia. Tem atrações naturais e culturais para todos os gostos. Além das estações de esqui que atraem milhões de visitantes no inverno, a cidade conta ainda com spas e é a porta de entrada do parque nacional que ocupa a floresta nos Tatras, como é conhecido o trecho mais alto dos Cárpatos no país.

Mapa em relevo da região de Zakopane exposto no Museu Tatra. Em cima, o Parque e Montanhas Tatra. Embaixo à direita, o Monte Gubałówka.

          Visitei Zakopane em bate-volta a partir de Cracóvia. As duas cidades são servidas por trem e ônibus, mas enquanto a ligação rodoviária dura pouco mais de duas horas, a por ferrovia passa em muito de três. Diante desta diferença abissal, preferi o ônibus. Como planejei a visita para um sábado, e tendo em vista minha experiência negativa que havia ocorrido no ano anterior quando conheci a finlandesa Porvoo, comprei as passagens online com dias de antecedência no site da Flixbus, em reais. A ligação é feita também pela companhia local Maxbus e há ônibus a cada hora entre as duas cidades. 

A estação ferroviária inaugurada em 1904 não foge à regra polonesa de belos prédios abrigarem os terminais de trem.

               As estações rodoviárias em Cracóvia e Zakopane são adjacentes à ferroviária. A de Cracóvia tem acesso peculiar - vindo do centro a pé, atravessamos o shopping Galeria em seu subsolo, então cruzamos os corredores da estação ferroviária para alcançarmos a rodoviária. Esta tem dois níveis de baias de ônibus, os da Flixbus utilizavam o andar inferior.

Casario de arquitetura típica  no largo do início do calçadão

              A viagem foi tranquila, a rodovia tem pista dupla até a metade do caminho, e o restante está sendo duplicado com a construção de uma nova estrada repleta de viadutos imponentes, paralela à atual. Como já tinha comprovado nos percursos dos dias anteriores, o asfalto estava impecável. Diferentes eram os painéis luminosos indicativos de temperatura dispostos nas laterais da estrada, apresentavam duas medições, a primeira mostrando a temperatura ambiente de 18°C e a segunda a temperatura do asfalto, 39°. Creio que esta última informação é útil no inverno congelante da área. 

Casas de madeira são uma característica do centrinho da cidade


          Zakopane é a cidade mais alta na Polônia, com o centro urbano localizado a 750 m de altitude e possuindo 27.000 habitantes. Uma de suas marcas registradas é a grande quantidade de casas de madeira com telhados alpinos inclinados para suportar a neve. O calçadão principal Krupówki, onde se pode apreciar várias destas casas, está a cerca de um quilômetro da estação.

Rua Krupówki em Zakopane


           A rua Krupówki atravessa a cidade e estava absolutamente lotada de gente, em sua maioria poloneses passando o fim de semana de primavera em Zakopane. Um destaque era um grupo de refugiados, possivelmente vindos do Oriente Médio, que tocavam canções alegres para os transeuntes. Foram os únicos que vi na Polônia.

Outro ângulo do calçadão da rua Krupówki


         Nas minhas idas e vindas pelo calçadão cruzei algumas vezes com pessoas fantasiadas de urso polar, que posavam para fotos com crianças. Descobri que estas fantasias são uma tradição na região existente há muitas décadas. Havia até uma loja ali que vendia fantasias de urso feitas de pele de ovelha. Engraçado foi descobrir depois que, enquanto eu passeava encantado na rua Krupówki, fotos antigas em preto e branco estavam em exposição numa galeria da longínqua Belfast, na Irlanda do Norte. Garimpadas junto às famílias de Zakopane, as fotos tinham como tema exatamente poses com os "ursos" brancos ao longo dos últimos cem anos.  

Os postes com hastes curvadas e vasos de flores pendurados são característicos do calçadão da rua Krupówski


           Minha primeira atividade em Zakopane após pegar o mapa da cidade no escritório de turismo localizado na própria estação ferroviária foi me dirigir direto ao funicular que me levaria ao mirante Gubałówka, o mais conhecido da região. O tempo estava um tanto instável e eu temia que uma chuva eventual bloqueasse a vista lá de cima. E em segundo, pela quantidade de turistas na cidade, eu também receava que houvesse uma fila grande para tomar o funicular.

O funicular chegando ao Monte Gubałowka 


               A preocupação foi infundada, havia uma pequena fila para a compra do tíquete de 39 złotys (ida e volta - só a ida custa quase isso, 32 złotys), e assim que o comprei na bilheteria consegui embarcar  no primeiro funicular. A estação se situa em frente ao início da Rua Krupówki e para se chegar até ela se atravessa uma feira de produtos típicos. Há diversas pistas de esqui em Zakopane, mas Gubałovka é a que tem acesso mais fácil e próximo, e fora do inverno seu mirante também é atração obrigatória. Quando a temporada de esqui se finda, permanece disponível uma pista de trenó que desliza em ziguezague pela encosta abaixo por um trecho curto; esta sim estava com uma fila grande de pais e filhos ansiosos por embarcarem na aventura. 
Restaurante no Monte Gubałówka


                O funicular é daqueles tradicionais, puxado por cabo e com uma bifurcação no  meio do percurso que permite que o vagão que sobe cruze com o que desce. A linha foi inaugurada em 1938, sendo a segunda mais antiga do país, e o percurso de 1,3  quilômetro é vencido em menos de quatro minutos. Para os fãs de exercício a subida também pode ser feita por uma escadaria que acompanha a linha.

Vista a partir do mirante 


               O mirante do Monte Gubałówka (lê-se gubauúfka) se eleva a 1.120 m de altitude e realmente sua vista imperdível é de tirar o chapéu. De lá se descortina o vale verde onde se localiza Zakopane e por trás a floresta do parque nacional e os majestosos picos dos Tatras, que com a primavera já avançando ainda possuíam alguns fiapos de neve em seu cume. 

Ovelhas esculpidas em arbustos enfeitam o mirante


          Na frente do restaurante do mirante encontrei ovelhas esculpidas em arbusto, que nos lembram a importância da ovinocultura na economia da região. Dela provém um dos mais conhecidos queijos poloneses feito à base de leite de ovelha, o oscypek. O queijo de origem protegida pela União Europeia é defumado, salgado e não pasteurizado, com sabor semelhante ao provolone. O oscypek é encontrado à venda no calçadão em barraquinhas com toldo branco e na feira junto ao funicular. 
 
Capela de pedra diante da entrada do cemitério velho, ao fundo. 


              Após retornar ao centro me dirigi ao Cemitério Velho, situado perto do terminal. O cemitério é considerado um dos mais bonitos do país pelos seus túmulos com decoração criativa de madeira. Porém tive uma decepção ao chegar ao local, pois o cemitério estava fechado para reforma. Ao seu lado está uma capela em pedra e também uma construção em madeira escura, que chateado pelo fechamento do cemitério não percebi se tratar da igreja mais antiga da cidade, erguida em meados do século XIX. Nem a fotografei, comi mosca...😞  

Santuário da Sagrada Família

            Em estilo totalmente contrastante encontramos o Santuário da Sagrada Família,  no início do calçadão Krupówki. O templo neogótico em pedra com sua torre alta se destaca na silhueta da cidade, tendo sido consagrado em 1899, substituindo a igreja que não reconheci. Vale a pena subir as escadarias de acesso ao pátio e conhecer o interior do santuário.

Interior do Santuário da Sagrada Família

         Foi só sair do santuário que os primeiros pingos de chuva começaram a cair. Aproveitei que o Museu Tatra ficava a alguns passos calçadão abaixo e aproveitei para conhecê-lo. O museu se situa num casarão imponente que é um dos maiores exemplos do chamado Estilo Zakopane, estilo arquitetônico criado por um arquiteto morador da cidade em fins do século XIX, e responsável pelo projeto de inúmeras casas, especialmente as de madeira que fazem a fama da cidade. Existe até um outro museu dedicado ao estilo inspirado nas residências seculares típicas da região (o Museu do Estilo Zakopane), apropriadamente situado numa vila com várias casas de madeira  representativas na rua do cemitério.  

Museu Tatra

              O ingresso de 26 zlotys ao Museu Tatra valeu a pena, apreciei bastante a exposição eclética,  que engloba desde o interior de uma residência típica até aspectos históricos e  culturais dos habitantes do Podhale, a região onde se situa Zakopane e que é conhecida por seu rico folclore. E falando no assunto, caso você passe por Zakopane durante a segunda quinzena de agosto, poderá presenciar o Festival Internacional de Folclore de Montanha, que acontece há 60 anos e hoje conta com a participação de grupos folclóricos de outros países eslavos como Bulgária e Macedônia do Norte, sempre se apresentando em trajes típicos vistosos.

Vestimentas típicas de Podhale expostas no Museu Tatra.

          Zakopane é ainda a sede do Parque Nacional Tatra, onde está localizado o pico mais alto da Polônia, se elevando a 2.500 metros. O parque possui quase 300 quilômetros de trilhas com muitas paisagens cênicas de lagos e montanhas que fazem a festa dos caminhantes fora da temporada de inverno. Como passei somente algumas horas na cidade, não deu para visitar o parque, mas fica a dica, vale a pena pernoitar em Zakopane para aproveitar mais todas as suas atrações. Zakopane foi uma grata surpresa para mim e caso volte a Cracóvia certamente vou dedicar alguns dias para conhecer melhor a área e caminhar pelas trilhas florestais. 

Banco musical na rua Kościuszki

                Ao voltar à estação rodoviária pela rua Kościuszki, notei bancos com desenhos estampados e que continham um botão no canto. Acionado o botão, o banco passa a  tocar música polonesa ligada à região de Podhale. Bem legal. 

           Já a viagem de retorno no final da tarde foi mais atribulada que a de ida. Pegamos um engarrafamento grande na estrada causado por acidente, e ainda houve outro adicional na chegada a Cracóvia, fruto de um sinal de trânsito que ficava aberto por pouco tempo. O ônibus acabou entrando na rodoviária 40 minutos atrasado, comprometendo o horário também dos passageiros que o esperavam para seguirem para Varsóvia. Esta é uma característica da Flixbus a meu ver negativa, as linhas têm frequentemente rotas bem longas com várias pernas e com isso atrasos podem ser comuns. 

                  No próximo post, Cracóvia. 


⏩➧   Este é o décimo  post da série sobre a viagem à Polônia  realizada em maio de 2024. Para visualizar os demais e ver o roteiro completo, acesse o post Percorrendo a Polônia de Norte a Sul.

 Postado por  Marcelo Schor  em 14.12.2025 

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