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O imponente Castelo de Malbork

 

Castelo de Malbork, tendo à frente foto das ruínas a que foi reduzido ao final da Segunda Guerra


            O Castelo de Malbork é simplesmente o maior castelo do mundo em termos de área, nada menos que 210.000 m². Patrimônio da Humanidade pela Unesco, é uma atração imperdível situada na cidade que leva seu nome, a meia hora de trem de Gdansk. É portanto ideal para um bate-volta de algumas horas para quem se hospeda em Gdansk. Foi o que fizemos, mas ao contrário do dia anterior o tempo não colaborou e a chuva deu as caras. 

                   A primeira surpresa que encontramos foi a estação ferroviária de Gdansk. As estações de trem na Polônia costumam frequentar a lista de prédios bonitos a serem apreciados em cada cidade, mas certamente a de Gdansk entrou na minha lista de favoritas. Situada a 1,4 km do largo principal Długi Targ, a estação foi inaugurada em 1900 com fachada quase idêntica à construída na francesa Colmar. Por incrível que pareça, as duas cidades na época faziam parte de um único país, a Alemanha, e se aproveitou o mesmo projeto para ambas.

Estação ferroviária de Gdansk


             Sendo o castelo um dos locais mais visitados do país e temendo filas grandes, adquirimos o ingresso com antecedência no site oficial por 80 złotys. Quanto à passagem de trem, compramos no guichê da própria estação, já que os trens são frequentes entre Gdansk e Malbork, com o trajeto durando de 30 a 40 minutos, dependendo se se trata de uma linha regional ou que segue para outras cidades como Varsóvia. Pouco antes da chegada, o castelo enorme pode ser apreciado do lado direito, junto à ponte que atravessa o rio Nogat, um afluente do Vístula.  

Mapa esquemático do castelo, mostrado no folheto disponível no guichê de entrada do castelo. 

            O castelo se situa a um quilômetro da estação ferroviária da cidade de Malbork. Mas atenção, não há qualquer indicação em placas sobre o caminho a seguir a pé (se precisar, mencione a palavra "zamek" - castelo em polonês - para apontarem a direção). Para uma manhã de terça-feira de maio havia muitos visitantes, com um grande número de grupos de colegiais e de pessoas da terceira idade.

Vista da fachada leste do castelo


          A  construção majestosa também é conhecida como Castelo dos Cavaleiros Teutônicos.  E quem foram eles? A Ordem (não confundir com os mais conhecidos Cavaleiros Templários e Cavaleiros de Malta) era vinculada à Igreja Católica por votos religiosos e surgiu em 1190 na cidade de Acre, que hoje se situa em Israel. Seus membros eram conhecidos pelas vestes brancas contendo uma cruz preta. Em seus primeiros tempos tinha como objetivo o auxílio assistencial aos germânicos que lutavam no Oriente Médio, mas já no século seguinte se voltou para as cruzadas europeias, com a cristianização forçada dos povos da Europa Central e Oriental.

Estátuas de dois grãos-mestres junto a um portão interior


           Com o passar dos anos a Ordem Teutônica se fortaleceu tanto que se constituiu num autêntico estado, governando cidades e rivalizando com os reinos da Polônia e Lituânia a leste, dos quais foi conquistando terras. O grão-mestre da Ordem acabou estabelecendo a sede em Malbork (chamada então pelo nome alemão Marienburg), construindo o seu palácio no castelo. Com o fim das cruzadas, o poderio da Ordem foi definhando, e em meio à guerra contra a Polônia, a população se revoltou em 1451, com as terras passando ao domínio polonês. Fiquei surpreso ao saber que a ordem existe até hoje com fins assistenciais, tendo sede em Viena.

Fosso que circunda o Castelo Médio

            Quanto ao Castelo de Malbork, sua construção se iniciou pelos cavaleiros em 1277 pelo que hoje conhecemos como Castelo Alto, sua parte junto ao rio. A partir de 1309, logo após a conquista de Gdansk, o castelo foi escolhido para sede da Ordem Teutônica devido à sua localização estratégica,  sendo paulatinamente expandido terra adentro à medida que o poderio e o número de membros da ordem aumentavam. O castelo sediou a Ordem por cerca de 150 anos até ser conquistado pelas forças polonesas em 1457 na Guerra dos Treze Anos. Construído todo em tijolo e argamassa em estilo gótico, se tornou uma autêntica fortaleza com várias camadas de muralhas e fossos (atravessados na época por pontes levadiças) cercando cada uma das suas partes. Deixado em ruínas ao fim da Segunda Guerra Mundial (veja a imagem na foto que abre o post), quando a Pomerânia já fazia parte da Alemanha há mais de um século, foi reconstruído a partir dos anos 1960. O castelo se tornou Patrimônio da Humanidade pela Unesco em 1997, atraindo nos dias atuais mais de 700.000 visitantes por ano.

Ponte de entrada do castelo, com o portão do castelo médio

A visita

                Ao chegarmos no guichê de ingressos, não havia fila para pegar o audioguia em inglês incluído no tíquete. O audioguia traça um roteiro para a visita ao castelo, que se seguido à risca leva em torno de três horas. Ele possui um localizador embutido, de forma que se sairmos do roteiro sugerido ele se programa e passa a recitar as informações sobre o aposento ou local em que você se encontra. De vez em quando os guias das excursões acabavam bloqueando com seus grupos os caminhos dentro do castelo, o que complicou um pouco seguir o roteiro passo a passo.  Acabamos pulando algumas etapas , mesmo porque apesar do conteúdo instrutivo, achei que após um tempo ouvir o audioguia se tornou cansativo. E mesmo sendo bom o audioguia, senti falta de uma planta detalhada dos salões, como encontrei no folheto do Castelo dinamarquês de Frederiksborg

Grande Refeitório no Palácio do Grão-Mestre - fonte:zamek.malbork.pl

            A entrada na construção propriamente dita se dá por uma ponte coberta sobre o fosso cujo portão na extremidade dá acesso ao pátio interno do Castelo Médio. A partir do pátio se pode conhecer o Palácio do Grão-Mestre, erguido no século XIV no ponto nobre junto ao rio para abrigar as instalações de trabalho e de residência do líder da Ordem. O destaque vai para o Grande Refeitório, um espaço vasto com janelas amplas  sustentado somente por três pilares estreitos que se abrem como palmeiras no teto abobadado. Também nos aposentos do castelo merecem atenção os orifícios redondos no assoalho, por onde saía ar de um sistema de aquecimento central alimentado por fornalha, uma comodidade inventada pelos romanos.  

Portão de passagem para o castelo alto, com as estátuas dos grãos-mestres ao lado

        No outro lado do pátio algumas salas expõem armaduras europeias e orientais além de outros apetrechos, e também há uma mostra  dedicada ao âmbar extraído na região, naquela época já uma fonte importante de renda para a Ordem. Antes de partir para o Castelo Alto, quatro estátuas chamam a atenção junto ao portão de acesso, retratando grãos-mestres. Por sinal, doze grãos-mestres que lideraram a Ordem enquanto o castelo funcionava como sua sede estão enterrados na Capela de Santana, também localizada no Castelo Médio.

Pátio do Castelo Alto

 
           O pátio do Castelo Alto é bem menor que o do Castelo Médio, e contém uma espécie de poço encimado pela estátua de uma ave. À primeira vista pensei que se tratava de uma fênix, mas na realidade ao notar seu bico longo e filhotes retratados abaixo, verificamos se tratar de um pelicano. Esta espécie de pernalta era associada na Idade Média ao conceito de sacrifício, tema bem caro à Ordem, onde seus membros renunciavam à vida pregressa, fazendo voto de castidade e de pobreza. Na lenda medieval mais conhecida, um pelicano deixa seu ninho desguarnecido ao procurar comida e um predador à espreita ataca os filhotes, os devorando. Ao voltar ao ninho, o pelicano se descontrola e após suas lágrimas secarem, começa a se bicar em desespero. O sangue resultante jorrou sobre os ossos de seus filhotes, os reconstituindo e levando à sua ressurreição.
 
          Em volta do pátio encontramos a instalação em formato quadrado do mosteiro onde se instalavam os cavaleiros. É lá que se encontra a Igreja de Santa Maria, com teto também abobadado e a cruz negra símbolo da Ordem. 

       Fugindo do padrão, uma torre externa aparece separada, ligada a uma quina do Castelo Alto por uma passarela sobre arcos. Espantosa era sua utilização, muito além da óbvia função defensiva. Era a torre sanitária, por onde escoavam os dejetos dos habitantes do complexo. Esta foi a primeira de torres semelhantes que passaram a aparelhar os castelos da região. Tão curiosa quanto o uso é a denominação deste tipo de torre no idioma polonês - gdanisko. É provável que o nome venha mesmo do diminutivo da palavra Gdansk - uma forma de humilhação diante da teimosia da cidade em se rebelar contra a Ordem. 
 
Pátio interno do Castelo Médio


             Aproveitamos para almoçar num dos restaurantes do castelo, com entrada num canto do pátio do Castelo Médio. Ainda era cedo e o restaurante Piwnicka estava vazio. Valeu pela atmosfera medieval de porão, com teto abobadado, parede de tijolos e mesas com bancos de madeira, sob iluminação fraca. Aliás, o nome do restaurante significa exatamente "porão" em polonês; no país é comum porões antigos terem sido transformados em bares ou restaurantes.  Aproveitei que não estava com tanta fome para experimentar um prato típico polonês que me deixou curioso, a sopa conhecida como żurek (lê-se júrek), feita com caldo à base de centeio fermentado. A sopa normalmente é incrementada com ovo e batata cozidos, além de pedaços de toucinho. Ao contrário das ótimas refeições que fizemos em Gdansk, aqui achei a comida apenas razoável.  


Pátio do Castelo Médio. Na quina se situa a entrada do restaurante onde almoçamos.

              Em tempo: o melhor ponto para se obter uma vista abrangente do castelo é a ponte de pedestres que atravessa o Rio Nogat. Desistimos de passar por lá devido à chuva. A ponte fica mais próxima de outra estação de trem na cidade, a Malbork Kaldowo. Alguns trens regionais também param nessa estação, o nosso o fez tanto na ida quanto na volta.

           No próximo post rumamos para Torun, a cidade onde nasceu Nicolau Copérnico, e que também sofreu grande influência dos Cavaleiros Teutônicos. 

⏩➧  Este é o quarto post da série sobre a viagem à Polônia  realizada em maio de 2024. Para visualizar os demais e ver o roteiro completo, acesse o post Percorrendo a Polônia de Norte a Sul.
 
 Postado por  Marcelo Schor  em 22.07.2025 
 

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