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São Lourenço e o Parque das Águas

Fonte Vichy no Parque das Águas
 

           São Lourenço é a mais conhecida das estâncias hidrominerais que formam o chamado Circuito das Águas no sul de Minas Gerais. Com 45.000 habitantes, ainda retém características de cidade do interior. Seu Parque das Águas atrai turistas de todo o país há quase noventa anos. 

Fonte no calçadão, com o painel de contagem regressiva para os cem anos do município.


            Visitei São Lourenço num fim de semana prolongado no feriado de Finados, após um hiato de trinta anos. A viagem é um pouco cansativa, seis horas de ônibus a partir do Rio de Janeiro, com a estrada que sai da Via Dutra e sobe a Serra da Mantiqueira estreita e cheia de curvas. Para minha surpresa, constatei que a cidade mudou pouco durante este tempo todo - vários edifícios altos à beira do parque e um calçadão com restaurantes e bares no quarteirão inicial da rua Venceslau Brás. Felizmente muitos aspectos da minha lembrança continuam intactos, em especial a beleza do parque, praticamente intocado na sua parte original. Como ponto negativo, só mesmo o tempo; como é costume nessa época do ano, choveu bastante (e a previsão era a mesma para os dias subsequentes à minha partida).

Basílica de São Lourenço


           Nas ruas em formato xadrez do centro de São Lourenço se destaca a bela matriz, a Basílica Menor de São Lourenço Mártir, situada na rua principal, Avenida Dom Pedro II, até hoje calçada com  paralelepípedos. O templo com arquitetura barroca e altares neoclássicos teve sua pedra fundamental colocada numa cerimônia de 1935 com a presença do então presidente Getúlio Vargas. Conta-se que na época de sua construção houve a Campanha do Tijolinho, em que cada morador contribuiu com um tijolo, assentado pelo próprio na estrutura que estava sendo levantada. Chamam a atenção os vitrais coloridos nas paredes e a estátua colocada na frente da escadaria de entrada - o pássaro pousado na mão do santo retratado já dá pista que não se trata do padroeiro que deu nome à cidade e sim de São Francisco de Assis. 

Interior da Basílica de São Lourenço

Parque das Águas

Mapa esquemático do Parque das Águas, com o Parque II à esquerda

           O Parque das Águas sem dúvida é o coração de São Lourenço, basta examinarmos o brasão da cidade, onde além do desenho das fontes aparece o lema "Água da vida, fogo da fé" em latim (referência também à morte do santo, executado na fogueira). Na verdade, a cidade surgiu a partir da fundação da companhia de extração das águas, atividade iniciada em 1890 - parece que Lourenço era o nome do pai do comendador que fundou a companhia e que adquiriu a fazenda onde se situavam as nascentes. 

Lago e edifícios situados junto ao parque


          Situado ao norte do centro, o parque estabelecido em 1935 ocupa uma área expressiva de 430.000 m², abrigando nove fontes de água mineral, cada uma com propriedades diferentes, variando também nas indicações terapêuticas. Conta ainda com pista de bocha e minigolfe, entre outras atividades.

O Balneário, o spa do parque existente desde sua inauguração onde são oferecidos serviços de reflexologia, ducha escocesa, banhos e massagem

          O horário de funcionamento do parque é de 8 às 17h20min (é, poderia fechar mais tarde...) e o ingresso custa 20 reais para entrada única e 24 reais para entrada com retorno no mesmo dia. Estudantes e maiores de 60 anos pagam meia entrada.

Pavilhão da Fonte Vichy


             O parque continua lindo como era há décadas, muito bem conservado. É administrado pela Minalba, que explora suas fontes. É dividido em duas partes de aspecto distinto: o Parque I, mais antigo e maior, com o lago grande, muitas árvores e a maior parte das fontes; já o Parque II é mais recente, onde predomina o gramado e há quadras de esportes e um pequeno jardim japonês criado em 2008, ano do centenário do início da imigração japonesa no Brasil. Pena que as cerejeiras não estavam em época de floração, que acontece no inverno, em julho ou agosto. Os dois parques são interligados por uma passagem sob a rua. 

O interior do pavilhão da Fonte Vichy

 

                Existem nove fontes de água mineral dispostas em pavilhões brancos espalhados pelo parque. Apesar de saírem do mesmo lençol freático, cada uma tem suas características. Só não se deve exagerar no consumo, podem ocorrer alterações digestivas.  Algumas das fontes mereceram menção especial:

  • Fonte Oriente, foi a primeira fonte inaugurada em 1929, antes mesmo da existência do parque. Dali sai ainda hoje a água engarrafada São Lourenço. Gaseificada e alcalina, é indicada para problemas renais. Perto da fonte se encontra um pau-brasil plantado por Getúlio Vargas dois anos após a inauguração da fonte (pelo visto o ex-presidente era fã de São Lourenço, tendo visitado muitas vezes o parque, hábito que se estendeu até poucos meses antes do seu falecimento).   
  • Fonte Vichy, está situada em localização cênica à beira do lago. Seu nome provém da semelhança do teor da sua água com a extraída na cidade francesa de Vichy, famosa mundo afora. Indicada para problemas gástricos e renais, seu pavilhão foi construído no estilo art déco. Como a água é utilizada em tratamento estético, também é conhecida como "fonte da beleza".
  • Se a Fonte Vichy está relacionada à beleza, a Fonte Alcalina é chamada de "fonte da juventude", pois melhora a disposição geral do organismo, em especial o sistema digestivo e urinário. Divide o mesmo pavilhão com a Fonte Magnesiana, marcado pela ornamentação de grandes globos brancos nas laterais da entrada. Quando eu era garoto, os pais adoravam tirar fotos dos filhos sentados sobre um dos globos - eu ainda tenho uma feita aos cinco anos de idade. 
Fonte Alcalina

 

        Ocupando mais de um quinto da área total do parque, o lago pode ser percorrido por pedalinho ou caiaque, ou então se pode dar uma volta completa na trilha que o circunda. Nele está a  Ilha do Amor, onde centenas de garças se aninham nas árvores. Um dos espetáculos mais aguardados em dias de sol é o revoar das garças ao entardecer. 

Pedalinhos enfileirados no lago, com a Ilha do Amor e suas muitas garças pousados nos galhos

 

             Uma longa escadaria dentro do parque dá acesso à Ermida Bom Jesus do Monte,  a capela que foi o primeiro santuário de São Lourenço, construída no final do século XIX. Não pude visitá-la, a escada estava bloqueada.      

Área perto da Fonte Oriente

Trem das Águas

          O Trem das Águas é um passeio realizado em fins de semana num trem histórico entre as cidades de São Lourenço e Soledade de Minas. O diferencial é a presença da maria fumaça, cuja locomotiva foi construída em 1927 nos Estados Unidos, mesmo ano da criação do município de São Lourenço. O passeio tem a duração total de 2h10min e o trajeto de dez quilômetros é vencido em 40 minutos. 

Estação ferroviária em São Lourenço


            O passeio acontece todo sábado pela manhã e também à tarde e no domingo somente pela manhã às 10h30min. A passagem estava com um bom desconto no fim de semana de Finados, 99 reais a segunda classe e 126 a primeira, não oferecendo meia entrada. A diferença entre as duas classes se resume aos assentos, bancos de madeira na segunda e poltronas estofadas na primeira. Comprei on-line o tíquete na primeira classe, mas as datas só abriram no site uma semana antes.

Ingresso para o trem


           A graciosa estação ferroviária de São Lourenço já nos leva de volta ao passado.  Foi inaugurada em junho de 1884 por Dom Pedro II quando a linha férrea foi estabelecida e hoje atende exclusivamente ao passeio.  O trem saiu lotado com seis composições - uma de primeira classe, quatro de segunda e um vagão restaurante. O trajeto acompanha o vale do Rio Verde e a paisagem é rural, bonita mas sem nada de extraordinário. O destaque inusitado é a passagem pelo aeroporto da cidade, com sua única pista de um quilômetro de extensão, àquela hora completamente deserto se destacando no meio do campo. A extensão de sua pista já foi maior, mas foi encurtada por pressões ambientais. 

Locomotiva a vapor no Trem das Águas


            O trem é uma das maiores atrações da região e à medida que passava tocando o apito as pessoas nas ruas e estrada acenavam e tiravam fotos. O clima bucólico é acentuado pela presença de violeiros nos corredores dos vagões de madeira, que entoam durante alguns minutos canções como "Panela Velha" e "Fuscão Preto". 

              Já Soledade de Minas é uma cidade pequena com 5.500 habitantes, que adquiriu importância ao se tornar entroncamento de três linhas de trem. Com o fechamento do último ramal em 1981, caiu no ostracismo até o estabelecimento do passeio turístico na virada do milênio. 

Estação de trem em Soledade


                Durante a parada de 50 minutos na estação terminal de Soledade se pode apreciar a cascata artificial construída bem em frente (seria para dar um sentido maior ao nome "Trem das Águas"? 😀) e visitar o pequeno Museu Ferroviário na própria estação, que conta a história da linha. Além disso, há várias lojinhas de artesanato e de quitutes mineiros, com destaque evidente para o pão de queijo e doces caseiros. Fora isso, a cidade não pareceu ter outros atrativos. 

Cascata na estação de Soledade


                 Na hora de voltar, a locomotiva a vapor já se encontrava posicionada na outra extremidade do trem, e viajaria de costas durante o percurso de retorno. Enquanto eu passeava pela estação, a ferromoça virou todas as poltronas da primeira classe de forma que pudéssemos viajar de frente. Com isto, o lado da paisagem é o mesmo da ida. E aproveitando a ocasião, o melhor lado para se viajar é o esquerdo, que acompanha o rio e proporciona visão mais ampla para a natureza. A viagem de volta transcorreu tranquila com outra dupla de violeiros, agora cantando músicas sertanejas mais recentes. 

                 O passeio agradou bastante e interessa a todos os públicos, especialmente a crianças e jovens que ainda não travaram contato com marias-fumaças. e trens antigos. 

O trem na estação de Soledade. Note a locomotiva mais ao fundo já na posição de marcha à ré prestes a iniciar a viagem de volta.


               Tanto São Lourenço quanto Soledade são pontos por onde passa um caminho histórico por onde era transportado o ouro extraído em Minas rumo ao litoral fluminense, a famosa Estrada Real.  No próximo post visitaremos justamente o ponto terminal dessa estrada icônica, a idílica Paraty.


 Postado por  Marcelo Schor  em 01.04.2025



2 comentários:

  1. essa é linda demais 😍👏🏼👏🏼👏🏼

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    1. Sem dúvida. E souberam preservar seus atrativos ao longo do tempo.

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