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Percorrendo a Polônia de norte a sul

Panorama de Gdansk, a primeira cidade visitada na Polônia


          Doze anos após minha visita a Varsóvia, retornei à Polônia. Desta vez cruzei o país do Mar Báltico aos Cárpatos, tendo dividido o pernoite por quatro outras cidades, todas dentre as mais visitadas por turistas. Contei com a companhia de meu irmão, que nunca tinha estado no país e estava interessado em conhecer a terra onde nasceram nossos avós maternos. 

Locais visitados na viagem

          A história da Polônia é bem singular. De potência europeia com maior extensão territorial durante sua união com a Lituânia no século XVII, sua importância foi minguando até o país desaparecer por completo em 1795, repartido entre Prússia, Rússia e Áustria. A Polônia só ressurgiu com o Tratado de Versalhes após o fim da Primeira Guerra Mundial, e mesmo assim, com fronteiras bem diferentes das atuais - o país sofreu um deslocamento parcial para oeste depois da Segunda Guerra. Só para se ter uma ideia, quando meus avós eram jovens moradores do leste polonês há cem anos, cinco das oito cidades que visitei não pertenciam ao país (três eram alemãs e as duas restantes estavam na Zona Livre de Gdansk). Esta "volatilidade" geográfica se refletiu na história de cada região polonesa, inserindo peculiaridades arquitetônicas e culturais.

Comparação dos limites da Polônia atual (em vermelho) com a de cem anos atrás (em azul). As duas regiões em que mais passei tempo nesta viagem, Pomerânia e Silésia, pertenciam então à Alemanha.

         Regra geral nas cidades históricas que visitei era o centro das atenções ser a Praça do Mercado, normalmente chamada de Rynek. Sempre cercada por vistosos prédios  com fachadas trabalhadas , contém um prédio plantado bem no meio que se destaca pelo tamanho e exuberância, sediando a prefeitura ou o próprio mercado. Além disso, duas categorias de edificações sempre atraem os olhares dos turistas pela sua beleza - as igrejas com suas fachadas de pedra ou tijolo e mais surpreendente, as estações ferroviárias, algumas nem parecendo se tratar de um terminal de transporte. E finalmente uma outra característica muito bacana que já tinha encontrado em outros países, mas que me pareceu mais frequente na Polônia: os modelos em miniatura em metal junto aos prédios históricos mais importantes, plantados para que deficientes visuais possam tocá-los e sempre acompanhados de legendas em braille afixadas. 

Modelo em metal da Prefeitura de Gdansk diante da mesma

O Roteiro:

Foram 13 noites atravessando o país de norte (Sopot) a sul (Zakopane), divididas em quatro cidades-base:
  • Gdansk - quatro noites, com bate-voltas a Sopot e Malbork
  • Torun - duas noites.
  • Wroclaw (conhecida como Breslávia em Portugal) - três noites, com bate-volta a Swidnica
  • Cracóvia - quatro noites, com bate-volta a Zakopane

Pelos dias que dispunha, acabei deixando de fora uma cidade querida pelos turistas, Poznan. Não querendo dividir a estadia em muitas cidades e precisando então escolher entre Poznan e Wroclaw, optei pela segunda. Tendo em vista o quanto apreciei Wroclaw, penso ter sido uma decisão acertada. 

Centro de Zakopane com os Cárpatos ao fundo, que fazem a fronteira com a Eslováquia

Moeda e custos:

A moeda polonesa é o zloty (pronunciado zuóti, palavra que significa "dourado"), que na época da viagem valia 1,3 real. Praticamente só usei cédulas de zloty para dar gorjeta aos guias dos walking tours, todo o restante foi pago com cartão global, amplamente aceito.  Quanto aos custos, a Polônia ainda é um país barato se a compararmos com seus vizinhos ocidentais como a Alemanha e principalmente com a Escandinávia, tanto na hospedagem quanto nas refeições. 

A vistosa Prefeitura Antiga de Wroclaw, com o relógio astronômico fabricado em 1580


Idioma:

O polonês é a língua falada no país. Idioma eslavo, tem uma escrita complicada com várias palavras parecendo impronunciáveis tamanho o amontado de consoantes e acentos sobre elas. O número seis é, por exemplo, sześć, pronunciado de forma aproximada xéxtx. Em cidades maiores é fácil encontrar pessoas que conheçam o inglês, especialmente entre a geração jovem, mas no interior são bem mais raras. É sempre útil aprender algumas palavras básicas e como pronunciar corretamente o nome dos lugares (e o polonês tem uma quantidade considerável de letras que não existem no português, levando a pronúncia equivocada). Um exemplo significativo é o ex-presidente Lech Wałęsa, cujo sobrenome se pronuncia vauensa.  

Com relação aos cardápios, grande parte dos restaurantes que frequentamos tinham a descrição dos pratos traduzidos para o inglês.

Muralha medieval e Portão dos Marinheiros em Torun


Segurança:

Não tivemos qualquer problema, as cidades pareceram bastante seguras. É verdade que andamos muito pouco à noite, já que escurecia depois das nove. Pedintes havia muito poucos, e mesmo assim concentrados em Cracóvia, a maior cidade do roteiro e a mais turística do país, lotada de visitantes vagando por suas ruelas. A presença policial nas áreas turísticas mais lotadas de Cracóvia chamou-me a atenção. 

O país ainda nos impressionou pela limpeza impecável das ruas e calçadas, além das fachadas muito bem conservadas nos centros históricos. 

Torreão da Prefeitura na Praça do Mercado de Torun

Transporte:

Para os padrões europeus a Polônia é um país grande (área de 312.000 km², um pouco menor que o Maranhão), com distância considerável entre as cidades mais habitadas. Nos nossos percursos utilizamos tanto o ônibus quanto o trem, a escolha dependia de fatores como custo da passagem e duração da viagem. Com exceção de Torun, as demais cidades-base tinham as estações ferroviária e rodoviária adjacentes, portanto o quesito localização do terminal era irrelevante na escolha.

Utilizamos a Flixbus nos deslocamentos Gdansk-Torun, Wroclaw-Cracóvia e Cracóvia-Zakopane. O site da Flixbus apresenta duas vantagens, o preço é em reais, e o percurso pode ser adquirido com bastante antecedência. Já para os trens a passagem só pode ser comprada com prazo de 30 dias, o que complica o planejamento. O site indicado nos guias de viagem para adquirir o tíquete ferroviário foi descontinuado, então usei o https://www.polishtrains.eu .

A única viagem mais longa que fizemos de trem foi entre Torun e Wroclaw, uma rara ligação direta entre as duas cidades, levando 3h55min - neste caso a opção rodoviária levaria mais do dobro do tempo com conexão em Varsóvia ou Lodz. O trem chegou a Torun com vários minutos de atraso, mas conseguiu recuperar o tempo perdido no caminho e chegamos a Wroclaw no horário. 

As estações de Cracóvia e Torun ficavam perto dos hotéis que escolhemos, mas as de Gdansk e Wroclaw estavam um pouco mais distantes e utilizamos Uber ou táxi para os deslocamentos em que carregávamos as bagagens.

Trem regional da operadora KD chegando à estação de Wroclaw

Walking tours:

Um achado na Polônia foram os chamados free walking tours, que carinhosamente apelidei de pé-tours. São tours cuja duração típica é de 2 horas e meia, feitos a pé pelas ruas da cidade percorrendo as atrações e podendo ser temáticos. Não é cobrada uma taxa fixa, você gratifica o guia no final da caminhada com o valor que lhe aprouver. Fizemos quatro, um em Gdansk, um em Wroclaw e dois em Cracóvia, todos pela mesma empresa, a Walkative!, e foram muito bons, com guias experientes.  O número de participantes variou, e o do centro de Cracóvia estava bem cheio. Mas atenção, é exigida reserva prévia pelo site. Tínhamos planejado também participar do de Torun, mas não conseguimos reservar, o tour já estava lotado mesmo eu tendo pesquisado semanas antes.

Um das centenas de gnomos em Wroclaw, característica marcante da cidade

Culinária:

A culinária polonesa é riquíssima, sendo batata, repolho e carne de porco presenças frequentes. O prato mais famoso, o pastel cozido recheado conhecido como pierogi, tem restaurantes dedicados exclusivamente à iguaria, com recheios diversificados.

Uma tradição presente nas cidades polonesas são os chamados milk bars (em polonês bar mleczny), restaurantes populares oriundos da época comunista, em parte subsidiados pelo governo e por isso mais baratos. Acabei não comendo neles, mas para quem quiser saber como é, a Fernanda Scaffi do blog Tá Indo pra Onde fez um post sobre o que achou dos milk bars em que esteve. 
 
O mercado na praça principal de Cracóvia


Seguem os posts publicados na série, começando com os dois publicados sobre Varsóvia, de viagem anterior:

⏩➧    Este é o primeiro post da série sobre a viagem à Polônia realizada em maio de 2024.

 Postado por  Marcelo Schor  em 18.05.2025 

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