A ponte Carrick-a-Rede na costa norte da Irlanda do Norte

        A mais aguardada atividade da minha recente viagem a Dublin foi a excursão à Irlanda do Norte para conhecer a Calçada do Gigante. Dei sorte, pois foi o último dia de sol que aproveitei em terras irlandesas. Se tivesse agendado para o dia seguinte, teria pego chuva forte, que com certeza teria estragado o passeio.

       Inicialmente tinha pensado em dividir minha estadia entre Dublin e Belfast; neste caso, faria o passeio a partir de Belfast, que fica bem mais perto da Calçada. Entretanto, amigos meus recém-chegados de viagem me falaram que não havia muito o que ver na capital da Irlanda do Norte. Acabei cortando a estadia por lá e optei por um passeio mais longo a partir de Dublin que reunisse as principais atrações da área.

As atrações mencionadas neste e no próximo post e sua localização na ilha da Irlanda. Á direita no mapa, a Escócia.

       E bota longo nisso: a excursão dura 13 horas, mas é absolutamente recompensadora. Escolhi viajar pela Paddywagon Tours e comprei o passeio pela internet. O ônibus saiu pontualmente no horário da Suffolk Street, a meras três quadras do hotel. Gostei bastante, o guia que também era o motorista forneceu muitas informações durante toda a viagem e as duas horas de viagem até Belfast passaram voando com a história do país e curiosidades que ele contava enquanto dirigia.  O único senão foi o sotaque ligeiramente estranho, “Ireland” por exemplo soava “óiland” – perguntaram de onde ele era e o guia disse que nasceu em Dublin mesmo, mas não ouvi sotaque similar durante minha estadia na cidade. Gostei do estilo menos “grudento” do guia com relação aos excursionistas – em cada parada, ele dava as informações necessárias sobre a atração, informava a hora de saída do ônibus e sumia de vista, deixando cada um livre para aproveitar a parada como melhor lhe conviesse.
De quebra, ainda mencionou uma frase insólita: "Como não gostar de uma ilha que tem o formato de urso de pelúcia?". Para falar a verdade, eu nunca tinha notado este aspecto da geografia da Irlanda...

A costa rochosa do condado de Antrim

        Não custa lembrar que a Irlanda do Norte é um dos países que formam o Reino Unido, junto com a Inglaterra, a Escócia e o País de Gales. Por isso, é bom levar algumas libras esterlinas para as despesas durante o dia. Uma informação que eu desconhecia: a República da Irlanda também não faz parte do Tratado de Schengen; quando você chega do Brasil via conexão em um país aderente ao Tratado, a alfândega é realizada somente em Dublin. Desta forma, a passagem na fronteira com o Reino Unido é livre. Mas logo você acaba notando que entrou na Irlanda do Norte por um detalhe simples: as placas de orientação na rodovia. Enquanto todos as placas na República da Irlanda ostentam os nomes dos lugares nos idiomas irlandês e inglês (e são bem diferentes, por exemplo Dublin se escreve Baile Átha Cliath na língua gaélica), na Irlanda do Norte só aparece o nome inglês. 

         Após uma breve passagem em Belfast para pegar mais excursionistas (voltaríamos no final da tarde para uma parada um pouco mais demorada), o ônibus seguiu agora completo para a primeira atração do dia: a ponte de Carrick-a-Rede. Adentramos a região conhecida como Costa de Antrim, conhecida pelo seu litoral de rochas escarpadas que formam paisagens belíssimas. Esta parte da Irlanda do Norte fica bem próxima à costa da Escócia, a somente 21 quilômetros. Dá para ver as montanhas escocesas do outro lado do Canal do Norte.

A costa junto a Carrick-a-Rede. As montanhas ao fundo já ficam na Escócia

          Carrick-a-Rede é uma ilhota bem rochosa situada junto ao continente, e que é formada por pedras de basalto originárias da cratera de um vulcão há muito extinto. O que torna o local uma atração imperdível é realmente a ponte que une a ilhota ao continente. Situada perto da cidade de Ballintoy, a primeira ponte foi construída por pescadores que a usavam para verificar suas redes de pesca. As redes ficavam dispostas entre a ilha e um barco, capturando salmões (hoje escassos) que passavam. Diante dessa atividade,que durou 400 anos, fiquei matutando se o nome “rede” poderia vir do nosso idioma, mas não conheço nenhum navegador português que tenha se aventurado por aquelas bandas; o nome curioso vem mesmo do irlandês. 

Gado irlandês pastando ao largo da trilha

       Para que visitássemos a ponte, o ônibus nos deixou na entrada do parque, aberto desde as 9h30min  nos meses de primavera e verão; o horário de fechamento varia das 18 às 19h30min. Paguei o ingresso de 5,60 libras esterlinas (não estavam incluídos no preço da excursão) e então caminhei por 20 minutos por uma trilha à beira-mar em meio a um cenário extasiante. Os campos verdejantes, o mar de um azul esverdeado e os rochedos marrons forneceram um contraste marcante. Pelo caminho, algumas vacas com pelagem bicolor pastavam tranquilas e pássaros pousavam nos penhascos altos entre a trilha e o mar, onde muitos deles fazem seu ninho.


A trilha da ilha de Carrick-a-Rede

      No final do percurso, após descer muitos degraus, finalmente pude vislumbrar tanto a ilha  Carrick-a-Rede quanto a ponte suspensa. A ponte propriamente dita fica situada a 25 metros do nível da água e tem 20 metros de comprimento. Sua entrada possui uma guarita onde o sentinela regula a passagem das pessoas, cobrando o tíquete adquirido na entrada do parque. Constituída por tábuas presas por cabos, a ponte balança no instante em que se põe o pé nela, e só tem largura para uma pessoa por vez. 

Já na ilha, uma foto da ponte de Carrick-a-Rede sobre o precipício

        Felizmente o tempo estava ótimo e não ventava, então a ponte balançou pouco; fico imaginando o que acontece em tempo inclemente (se a situação fica crítica, a ponte é fechada pela administração). Como estávamos em meados de  maio, o lugar estava relativamente vazio e as pessoas conseguiam parar na ponte para tirar fotos do/da acompanhante. Nos meses de verão isto é inviável, há fila diante da guarita e o guarda pressiona o andamento da fila. A aventura é bem legal e todos chegam sãos e salvos na ilhota, mas definitivamente a travessia não é recomendável para quem sofre de vertigem. Do outro lado da ponte, a pequena ilha reserva uma vista fantástica do litoral aos intrépidos atravessadores.

As tábuas sobre o piso vazado na ponte conferem um "charme" adicional de aventura à travessia

        A ponte é mantida pela National Trust, uma famosa organização do Reino Unido especializada em locais históricos. Nos últimos tempos, vem sendo trocada a cada quatro anos por questões de segurança.

A bonita vista para baixo desde o acesso à ponte

        De Carrick-a-Rede seguimos para a maior atração do roteiro, a Calçada do Gigante. Como já me alonguei demais nesse post, fica para o próximo.


 Postado por  Marcelo Schor  em 28.03.2015 
 
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